Por que o tênis na Argentina parece ser mais expressivo que no Brasil?
O Masters 1000 de Miami está rolando e teve sul-americano fazendo uma campanha brilhante. Estamos falando do tenista Francisco Cerundolo (103°), que até começar a jogar pelo torneio não tinha nenhuma vitória em quadras duras e agora acumula simplesmente cinco. O primeiro argentino que chegou a uma semifinal de Miami desde Juan Del Potro.
Mas por que estamos falando disso? Porque temos recebido perguntas endereçadas ao embaixador da INNI, Gaston Raposo, sobre qual a opinião dele a respeito do tênis argentino e o brasileiro e por qual motivo o esporte parece ser mais expressivo na Argentina.
Lógico que após alguns anos morando no nosso país o Gaston topou nos contar sua perspectiva, a qual apresentaremos a seguir em tópicos para você. Lembrando que a intenção não é apontar melhor ou pior, mas refletirmos juntos o mecanismo do nosso esporte favorito! Bora?
- Diferença cultural entre os dois países
“O que eu percebo no Brasil é que o apoio vem quando determinado esporte está em alta, quando aparece alguém com novidades, ganhando uma medalha ou coisa assim. Já na Argentina, o que eu vejo é uma sociedade mais apoiadora do esporte como um todo, independente de modalidade ou de nível. Há uma união, seja qual for o tamanho da liga ou da pessoa que está competindo. Ou seja, não acompanham só na vitória ou quando alguém fica em evidência porque teve uma boa semana.”.
- Incentivo
“Mesmo com todas as atitudes ruins e barbaridades de alguns maus governantes, na Argentina tem programas de incentivo a todos os tipos de esportes. Nas escolas de lá, por exemplo, isso é algo muito forte. Uma coisa que eu desconheço aqui no Brasil são ligas intercolegiais, onde tanto o ensino médio como o fundamental tenham ligas esportivas com competições anuais, desde o nível de bairro até nacional, seja no atletismo, no tênis, no futebol, no handebol, em todas as modalidades esportivas. Tudo isso contribui para que o esporte, não só o tênis, seja fomentado como um todo.”.
- Quadras
“No tênis, acho que desde a época do Guillermo Vilas, criou-se uma cultura muito forte. Construíram muitas quadras na Argentina naquela época. Lá há muito mais quadras de tênis que no Brasil. E aí você vê o tamanho de um país e o tamanho do outro. Talvez só Buenos Aires tenha metade das quadras do Brasil inteiro.”.
- Treinadores
“Outra coisa é que quando os tenistas argentinos se aposentam, a grande maioria fica no país para treinar novos jogadores e formar professores. Muitos deles deixam de ir ao exterior para ganhar dinheiro. É toda uma cultura de apoio, de ajuda, de viajar juntos, de formar turmas, de fazer giras para a Europa. Há uma unidade, é só pensar quantos brasileiros fizeram ascensão da carreira com treinadores argentinos. Foi o caso dos dois melhores tenistas brasileiros”.
- Autonomia dos atletas desde cedo
“Uma coisa que me surpreendeu muito no Brasil foi ver tantos pais presentes nos torneios. Não estou falando que é ruim, mas a questão é que esses pais interferem de uma forma nem sempre benéfica, pois com as melhores intenções acabam na maioria das vezes atrapalhando ao querem dominar e ser donos da carreira dos filhos. Nos torneios da Argentina é muito difícil vê-los. Desde muito cedo o tenista argentino aprende a se virar, pegar experiência e tudo isso eu acredito que faz diferença no crescimento e na maturidade do atleta.”
- Acessibilidade
“Além de quadras públicas, os clubes são mais abertos na Argentina. Há mais facilidade de fazer aulas. Poucos clubes no Brasil permitem isso.”.
O Gaston nos deu muito o que pensar, não? Mas, e aí? Vamos trabalhar duro para desenvolver mais o tênis aqui no Brasil ou vamos ficar só olhando os argentinos representando nas finais dos grandes eventos esportivos?