Bruno Soares conta sobre seu novo ciclo fora das quadras e dá conselho aos tenistas iniciantes

|dezembro 20th, 2022|Tênis, Tênis brasileiro|

Já em clima de fim de ano, a INNI conversou com um dos maiores duplistas de tênis do Brasil, Bruno Soares, sobre a recente despedida das quadras, o novo ciclo em que agora ele é integralmente empresário, com projetos que envolvem saúde, esporte e educação, e também sobre os desafios do tênis brasileiro. 

Foi inspirador bater um papo com esse grande representante do esporte de quem todos nós somos fãs e de quebra ele ainda deixou um conselho aos tenistas iniciantes. 

A entrevista está muito show, tenista. Acompanhe abaixo.

O que falaria para o Bruno Soares enquanto criança?

Duas coisas: curta bastante a jornada – porque ela é dura, sofrida, mas vale muito a pena -, e para ele entender a importância do processo de dedicação diária.

Como criança a gente tem um pouco de dificuldade de compreender o que esse processo significa e eu não fui diferente. Eu demorei muito para entender o que é me dedicar com constância na busca pelo meu sonho.

Como foi a despedida das quadras?

Foi uma decisão difícil deixar as quadras este ano, mas foi muito bem pensada. Eu passei os últimos dois anos refletindo sobre isso. Acho que fiz na hora certa.

Eu sou um apaixonado pelo o que fiz. Eu vivi meu sonho, tive esse privilégio. Nunca é fácil se afastar, mas aos 40 anos, extremamente realizado com tudo que eu conquistei, era hora de seguir em frente.

Agora é inverter. Tentar devolver um pouco de tudo o que o tênis me deu e passar tudo para essa turma nova que está jogando. Onde eu conseguir contribuir para o crescimento do tênis eu vou fazer dando sequência à minha vida de empresário.

Qual ciclo iniciará agora e de que maneira o tênis contribui para isso?

Eu sempre tive veia empreendedora. Sempre gostei de empreender. Sempre estudei. O tênis me proporcionou oportunidades de conhecer e me relacionar com muita gente de mercado, do mundo de investimento, do mercado financeiro. Trocar ideia, aprender, perguntar, ter a liberdade de pegar um telefone e pedir uma opinião me ajudou muito ao longo da minha carreira.

Há sete anos tenho um fundo de investimento, a MadFish, que tem como pilares saúde, esporte e educação. Somos três sócios, eu, Hugo Daibert, que foi meu treinador, mentor, parceiro, guru, e é uma grande referência para mim, e a Maisa Feital. Temos também outro projeto de experiências que chama MadLand e os nossos projetos no tênis dentro da FlySports [academia para o desenvolvimento de atletas iniciantes e também de alto rendimento].

Qual é o maior desafio para o desenvolvimento de tenistas iniciantes?

O Brasil está muito longe do tênis real, que é o que acontece na Europa.

Estamos num ambiente pouco competitivo onde o garoto chega a ser n° 1, 2, 3 do país, mas isso não impacta a carreira dele caso ele não esteja realmente competindo com jogadores europeus, jogadores que são referências na idade dele.

Ser campeão do estado, ser campeão brasileiro não significa nada se você não estiver inserido no meio competitivo. O tênis hoje acontece na Europa. É lá que estão as grandes referências, a grande maioria dos tenistas é de lá.

Há muitos tenistas que não vão para a Europa antes dos 16, 17 anos, para competir, jogar torneios. É muito diferente um menino que está exposto a esse nível de treino e exigência desde os 12 anos e o menino brasileiro que começa a viajar para fora com 17, 18, 19. Faz muita diferença esses 5, 6 anos no processo de desenvolvimento do tenista juvenil brasileiro.

Os treinadores brasileiros são extremamente preparados, temos excelentes no país e a gente forma grandes jogadores, mas não é o que a gente faz aqui e sim a distância que nos impede de um crescimento maior, mais acelerado, mais eficiente, que faz com que a gente fique um pouco para trás no longo prazo.

Que conselho daria para o tenista que está começando e quer chegar ao nível profissional?

Para uma pessoa que está se dedicando, esforçada, que treina todo o dia com o comprometimento necessário, acho que o mais importante é a busca de um ambiente vencedor.

Um ambiente onde você esteja ao lado de pessoas que te puxem para cima, que te façam melhorar, extremamente competitivo.

Por mais que a gente tenha um grande jogador e um grande treinador juntos, criar esse ambiente de treino para essa criança todo dia é muito difícil. O conselho que eu dou é fazer intercâmbios, procurar estar perto dos maiores centros de treinamento onde estão os melhores da categoria daquele tenista.

Como foi crescer profissionalmente ao lado do amigo Marcelo Melo?

Eu e Marcelo começamos nossa amizade e trajetória no tênis aos 7, 8 anos de idade mais ou menos. Nós passamos literalmente por todas as etapas do processo juntos.

É muito bacana ter trilhado esse caminho com ele. E realmente, depois de tanto perrengue, tanta coisa que a gente passou junto, chegar no topo e ter a carreira que a gente teve, é muito especial.

O principal de tudo é ter compartilhado com ele muitas das grandes vitórias e conquistas que eu tive na minha carreira. Em pensar que dois mineiros de Belo Horizonte iam ter esse sucesso todo, vindo do mesmo lugar, é bem incrível. Fazer isso com um grande amigo torna tudo ainda mais especial.

O que foi mais emocionante para você? Ganhar o Australian Open ou o US Open?

Ganhar um Grand Slam é uma emoção muito forte. Obviamente o primeiro [US Open] tem um peso muito grande na conta, mas ao longo de seis títulos é difícil falar qual foi o mais emocionante. São todos extremamente especiais. Todos são a realização de um sonho. Por mais que você ganhe 2, 3, 4, é sempre muito especial. Eu colocaria todos no mesmo patamar de emoção e realização.

Conta um pouco sobre a sua experiência como conselheiro da ATP e o que espera para o futuro?

Foi uma baita experiência. Eu fiquei oito anos no conselho. Achei isso super importante para mim. Sempre quis entender um pouco o outro lado da moeda, o lado dos torneios, o que acontece por trás dos jogos, toda a parte financeira e onde a gente pode contribuir como jogador.

O papel do conselho da ATP é representar os jogadores. Até este ano ele era formado por pessoas mais veteranas, digamos assim. Vários membros aposentaram. Eu, Kevin Anderson, Gilles Simon, Federer, todo mundo aposentou, acredito que o Rafa [Nadal] não vai seguir também, então a mudança será grande.

Acho que o grande desafio é seguir representando o interesse dos jogadores e trabalhar para que os tenistas possam ter melhores condições no circuito para dar sequência a esse bom trabalho que fizemos até aqui.

E como foi jogar com a INNI na última partida da sua carreira?

Eu não conhecia a INNI. Conheci recentemente. Foi a primeira vez que eu joguei com as bolas e gostei. Achei a bola boa, achei que ela durou super bem, rendeu bem depois que a gente começou a usar [na partida oficial de despedida das quadras no ginásio do Mineirinho com as presenças de Rafael Nadal, Casper Ruud, Marcelo Melo, Rafael Matos e Bob Bryan].

Terei que jogar mais para dar um feedback mais detalhado, mas a primeira impressão foi super positiva. Bacana demais esse projeto de vocês de trazer um melhor custo para os tenistas, dar mais acesso para o pessoal conseguir comprar equipamentos. Desejo muito sucesso.

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